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... com sons e imagens... mas também silêncios, se fará esta conversa ... sempre ao sabor das palavras ...
As lembranças são, de facto, como as cerejas: puxa-se, involuntariamente, por uma, e atrás dessa vêm coisas diversas que se ligam a ela de modos inesperados… ou não.
A propósito de uma imagem que vi na TV lembrei-me que, numa das minhas idas a Itália, tinha ido a Tivoli e à Villa Adriana, mandada construir no século II pelo imperador Adriano, esse hispânico de nascimento e grego de coração.
E lembrei-me também de que, para essas viagens, levo sempre nos olhos as imagens que vou construindo ao sabor das leituras e que me fazem ficar desiludida quando me deparo, depois, apenas com ruínas. Talvez por isso, nunca tenha querido ir à Grécia…
É ilógico que assim seja!
Eu tenho obrigação de saber o que me espera. E eu sei muito bem!
Mas, isso não impede que, na parte não-lógica de mim, existam sempre outras imagens, onde construções e personagens têm vida e estão inteiras...
E, ali, na villa Adriana, foi quase como se esperasse que, de repente, a cena se animasse e visse o próprio Adriano a passear com Antinoo à beira dos tanques.
Mas, que imagens levava eu nos olhos para a villa Adriana?
Para além das criadas pelo conhecimento da história de Roma, levava ainda as que criara pela leitura do livro Memórias de Adriano, de Margarite Yourcenar, esse livro … (de novo a dificuldade do adjectivo… bonito? é demasiado, simplicista; interessante? demasiado light; assombroso? demasiado ruidoso; talvez sofrido…)
…. sim, sofrido, dorido… que deixa em nós um travo de tristeza… também inesquecível, porque já voltei a ele várias vezes.
Para além do interesse das memórias do imperador-autor, da beleza do seu amor pelo jovem bitínio ou da profunda dor pela sua prematura morte, o que impressiona neste livro é o modo como está escrito.
É o seu ritmo. Para mim, a escrita deve ter ritmo, como a música.
E, depois, a autora escreveu por dentro de Adriano...
É também por isso que gosto deste livro.
O leitor está dentro do pensamento da personagem e não no papel de mero espectador das suas acções.
Acho que isso só conseguem fazer os grandes escritores. Saramago consegue-o também…
Os escritos dos que escrevem-por-dentro são profundos, ricos psicologicamente e o leitor age, ama, ri e sofre com a personagem, porque verdadeiramente a habita.
Os autores mais vulgares (… e cada vez mais autores…), limitam-se a pôr palavras banais na boca de um que responde a outro e nós a ver o jogo de ping-pong entre eles, sempre de fora...
Claro que a memória de Adriano também está no Castelo de Sant'Angelo, em Roma.
Ele mandou-o construir para seu mausoléu...
(imagem de Turismo de Itália)
Por isso, hoje, a minha viagem (... apesar de não ter aqui à mão nenhuma das minhas fotografias) foi uma viagem interior, às memórias, minhas e de Adriano.
E a música escolhida só poderia ser um requiem…
Mozart, Requiem - Lacrimosa (Orquestra Filarmónica da Eslováquia e coro) |
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