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... com sons e imagens... mas também silêncios, se fará esta conversa ... sempre ao sabor das palavras ...

14
Jul12

As lembranças são, de facto, como as cerejas: puxa-se, involuntariamente, por uma, e atrás dessa vêm coisas diversas que se ligam a ela de modos inesperados… ou não.

A propósito de uma imagem que vi na TV lembrei-me que, numa das minhas idas a Itália, tinha ido a Tivoli e à Villa Adriana, mandada construir no século II pelo imperador Adriano, esse hispânico de nascimento e grego de coração.

E lembrei-me também de que, para essas viagens, levo sempre nos olhos as imagens que vou construindo ao sabor das leituras e que me fazem ficar desiludida quando me deparo, depois, apenas com ruínas. Talvez por isso, nunca tenha querido ir à Grécia…

É ilógico que assim seja!

Eu tenho obrigação de saber o que me espera. E eu sei muito bem!

Mas, isso não impede que, na parte não-lógica de mim, existam sempre outras imagens, onde construções e personagens têm vida e estão inteiras...

E, ali, na villa Adriana, foi quase como se esperasse que, de repente, a cena se animasse e visse o próprio Adriano a passear com Antinoo à beira dos tanques.

 

(imagem de Turismo de Itália)
 

Mas, que imagens levava eu nos olhos para a villa Adriana?

Para além das criadas pelo conhecimento da história de Roma, levava ainda as que criara pela leitura do livro Memórias de Adriano, de Margarite Yourcenar, esse livro … (de novo a dificuldade do adjectivo… bonito? é demasiado, simplicista; interessante? demasiado light;  assombroso? demasiado ruidoso; talvez sofrido…)

…. sim, sofrido, dorido… que deixa em nós um travo de tristeza… também inesquecível, porque já voltei a ele várias vezes.

Para além do interesse das memórias do imperador-autor, da beleza do seu amor pelo jovem bitínio ou da profunda dor pela sua prematura morte, o que impressiona neste livro é o modo como está escrito.

 

É o seu ritmo. Para mim, a escrita deve ter ritmo, como a música.

E, depois, a autora escreveu por dentro de Adriano...

É também por isso que gosto deste livro.

O leitor está dentro do pensamento da personagem e não no papel de mero espectador das suas acções.

Acho que isso só conseguem fazer os grandes escritores. Saramago consegue-o também…

Os escritos dos que escrevem-por-dentro são profundos, ricos psicologicamente e o leitor age, ama, ri e sofre com a personagem, porque verdadeiramente a habita.

Os autores mais vulgares (… e cada vez mais autores…), limitam-se a pôr palavras banais na boca de um que responde a outro e nós a ver o jogo de ping-pong entre eles, sempre de fora...

 

Claro que a memória de Adriano também está no Castelo de Sant'Angelo, em Roma.

Ele mandou-o construir para seu mausoléu...

 (imagem de Turismo de Itália)

 

Por isso, hoje, a minha viagem (... apesar de não ter aqui à mão nenhuma das minhas fotografias) foi uma viagem interior, às memórias, minhas e de Adriano.

E a música escolhida só poderia ser um requiem… 

 

Mozart, Requiem - Lacrimosa 

(Orquestra Filarmónica da Eslováquia e coro)

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