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... com sons e imagens... mas também silêncios, se fará esta conversa ... sempre ao sabor das palavras ...

15
Jun12

Ontem, num noticiário da tv, tive conhecimento de um evento que reunia, num restaurante do norte do país, seis cozinheiros famosos, chefes de cozinha em restaurantes galardoados com estrelas Michelin.

Apareceram ainda as imagens da preparação dos “manjares” do menu de degustação pelo qual se pagava 150 euros.

Os pratos, constituídos por verdadeiras miniaturas de alimentos (um pedacinho que me pareceu ser de peixe, acompanhado por uma estreita tira de qualquer outra coisa, enfeitado com vários pingos de um molho, artisticamente dispostos.

Um outro, que creio ser uma sobremesa (será?), era constituído por uma longa “pincelada” cor-de-rosa, com várias outras miniaturas que não pude reconhecer e 1 cereja!

Entretanto, ajudantes de cozinha afadigavam-se a colocar em pé "penachos" de coisas desconhecidas e a encher umas pequenas cornucópias com minúsculas coisinhas e pequeninas colheradas de qualquer outra coisa.

 

De facto, todos os pratos eram um regalo para os olhos!

E, como «os olhos também comem», o objectivo foi atingido!

O problema destas modalidades culinárias (nouvelle cuisine, cozinha de fusão, cozinha de autor, etc. ou qualquer outro nome que lhe chamem) é que, efectivamente, só os olhos é que comem…

 

Isso fez-me recordar que também andei por aí, isto é, também achei que devia experimentar a cozinha contemporânea e… foi para esquecer!

Já me sucedera no Grand Café em Oslo: lindo, requintado, música de piano ao vivo, caríssimo.

No prato, um minúsculo pedacinho de carne com um molho indecifrável e uma trufa e quase sem sabor.

A conta foi bem maior do que a refeição.

 

Grand Cafe, Oslo

 

Houve depois outros jantares parecidos, mas a minha coroa de glória foi em Amesterdão, no Reflet, um dos mais bonitos restaurantes que já vi.

Eu conto: para a minha estada em Amesterdão escolhi o Grand Hotel Krasnapolsky, de cinco estrelas, recomendado especialmente por guias como o American Express e outros (qualquer dia falo dele).

Situado no centro da cidade, em plena Dam, tinha ainda o aliciante, de acordo com as informações, quer escritas quer disponíveis na net, de ter «os melhores restaurantes de hotel de Amesterdão», um dos quais era o Reflet. E não resisti.

 

Reflet, Amesterdão

A sala era maravilhosa e os pratos que passavam, para clientes já sentados noutras mesas, eram verdadeiras obras de arte!

Escolhi um prato, com um nome compridíssimo, mas que se resume a isto: salmão em cama de mousse de abacate, folhas de noz-moscada e lagostim.
Esperei ansiosamente e lá chegou o meu prato: sobre uma fina cama de uma mousse verde, repousava uma pequenina posta de peixe, sobre a qual se aninhava um minúsculo lagostim com a sua respectiva casca e umas folhas transparentes de noz-moscada. Tudo encimado por um penacho verde de qualquer erva aromática.
Lindo!

 

Comecei a comer quase com pena de desmanchar o prato e… não sabia absolutamente a NADA! Mas, mesmo a NADA!

O salmão não sabia a salmão (e todos sabemos como o sabor do salmão é forte), o lagostim idem, a mousse também não sabia a nada e as folhas de noz-moscada também não.

Concluí, portanto, que se tivesse bebido um copo de água em vez de ter pedido aquele prato, teria sido a mesma coisa!

 

A partir desse dia, melhor dizendo, dessa noite, acabaram-se as degustações e a cozinha contemporânea!

Acho que a cozinha de autor é a suprema arte de conseguir retirar todo o sabor natural dos alimentos.

E não devo estar assim tão errada, porque, um dia destes, num semanário, um grande chef da moda dizia que já tinha feito uma feijoada que ninguém descobriu que era feijoada! Querem melhor confirmação do que eu disse atrás?

 

Portanto, agora, fujo de:


  1. Pratos com nome comprido – quanto mais comprido o nome menos saboroso é o prato;

  2. Restaurantes com estrelas, garfos de ouro e equivalentes – é bom saber quais são para não ir lá...

Curioso que, antes de escrever este post, fui ver, na net, o menu actual do Reflet.

Ou está abreviado ou, então, mudaram o tipo de cozinha...

Desapareceram os pratos com nomes enormes e estes parecem-me ser bem mais “normais”.

Se calhar não fui só eu a fartar-me da cozinha contemporânea…

 

Bom apetite!

 

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