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... com sons e imagens... mas também silêncios, se fará esta conversa ... sempre ao sabor das palavras ...
A notícia de hoje é que a Câmara de Lisboa vai restringir o horário daquela discoteca onde foi morto o segurança. Medida acertada, diremos todos. Medida tardia, diremos nós, porque as queixas por causa de distúrbios e barulho, naquela zona, já eram muitas e, só agora, por causa do homicídio, a Câmara vai pôr aquele "paninho quente". Apenas porque os olhos de toda a gente estão para ali virados.
Se não fosse isso, a Câmara continuaria a contemporizar, tudo permitindo, nada fiscalizando, protegendo assim os prevaricadores, os "homens da noite", que parecem fazer o que querem em certas zonas da cidade.
O problema do ruído feito fora de horas, sistematicamente, anos a fio, em total desrespeito pelas leis vigentes e até pelos princípios da própria Constituição, não afecta só os moradores de Santos ou do Bairro Alto.
Aqui há tempos foi também notícia o facto de os bares da zona do Cais do Sodré, depois de anos de queixas dos moradores, passarem a ser obrigados a fechar uma hora mais cedo e, essa hora mais cedo, é, convenhamos, ainda demasiado tardia: antes fechavam às 4 da manhã e passaram a fechar às 3 horas da madrugada ! (Veja-se a propósito o post de 7 de Novembro de 2014 - Lisboa, cidade sem lei?) Pior ainda: muitos desses negócios estão a migrar para bairros residenciais da cidade até aqui livres dessa praga.
(Crédito das imagens: Lisbon Lux; Samuel Alemão in O Corvo - Sítio de Lisboa e F. Jorge in Cidadania Lisboa)
Creio que tudo isto radica numa concepção de cidade, de todo discutível, que dá primazia ao lazer e ao turismo, em detrimento de uma concepção de cidade virada para os que nela habitam e trabalham. Veja-se a transformação a que a cidade tem sido sujeita à luz dessa concepção (Cf. o post de 31 de Agosto de 2017 - Os passeios de Medina): faixas de rodagem estreitas e passeios larguíssimos, a que se juntam passadeiras de peões com sinalética em relevo, no chão para invisuais, o que é de aplaudir.
Mas, depois, a Câmara e as Juntas de Freguesia tudo permitem em cima desses passeios - esplanadas temporárias, com cadeiras que se tiram e se põem todos os dias, mas também esplanadas fixas, com alteamento do chão que, afinal, ocupam os novos espaços criados e dificultam o caminho não só aos invisuais, mas a todos, porque esplanadas há que deixam apenas uma estreita faixa de passeio entre a última mesa e a rua. (Mas não havia uma lei sobre isto?)
E cá está o tal conceito de cidade apenas virada para o lazer: são os turistas e os moradores da cidade que pouco ou nada têm para fazer, a não ser estar nas esplanadas ou ir curtir a noite nos bares e discotecas, que são o objecto destes cuidados urbanísticos. Os outros, os que querem dormir em paz ou os que gostariam de mais facilmente circular pela cidade só encontram obstáculos: faixas de rodagem reduzidas, que não permitem suficiente fluidez de trânsito mesmo fora das horas de ponta e poucos lugares de estacionamento ou praças onde idosos e crianças convivem com skaters.
Será que o que mais interessa à Câmara de Lisboa é o dinheiro que entra nos seus cofres proveniente dos licenciamentos de esplanadas, bares, discotecas e afins? Que sociedade é esta, afinal, que se cria desta maneira?
Quando se regressa depois de muitos meses fora do País, os sentidos ficam mais alerta para as mudanças. E a Lisboa de Medina acabou por me surpreender.
Quantas obras!
O que dá mais nas vistas são os enormes e largos passeios que agora há, um pouco por todo o lado!
Tão largos e tantos que, mesmo que os lisboetas saíssem todos à rua ao mesmo tempo, acho que não conseguiriam enchê-los na totalidade.
Muitos desses largos passeios foram criados onde já existiam passeios com largura suficiente para uma multidão passar e em detrimento de faixas de rodagem que desapareceram. Nalguns sítios ficou uma faixa única!
Mas, agora o politicamente correcto é diabolizar os automóveis e, por inerência, os automobilistas...
Aos iluminados da Câmara de Lisboa não passou pela cabeça que se avaria um veículo nessa faixa, o trânsito pára completamente, porque não há saídas?
Ah, mas parece que vai haver mais, segundo já ouvi: a 2ª Circular, eixo viário fundamental de distribuição do trânsito, vai tornar-se uma avenidazinha, bonitinha, com passeiozinhos enormes para os lisboetas passearem os cães e descansarem em banquinhos colocados... no separador central?
Querem ver que vai ser reduzida também a uma faixa para cada lado?
Se actualmente, com três, já é impossível circular ali a algumas horas, vai ser bonito ver os combóios de camiões e de carros todos parados, a emitirem gases poluentes.
E ninguém disse a esses autarcas que gastam o nosso IMI, que o aumento da fluidez do trânsito ocasiona redução de poluição? E que o congestionamento ou o fluxo lento do trânsito são responsáveis pelo aumento da emissão de gases poluentes?
Que Santo António de Lisboa nos dê paciência.
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