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... com sons e imagens... mas também silêncios, se fará esta conversa ... sempre ao sabor das palavras ...

Estive nesta semana em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, e tive ocasião de ver as obras expostas na 9ª Bienal do Mercosul, cujo tema é Se o Clima for Favorável, que aborda as relações entre a arte, a tecnologia e a natureza.

Começou a 12 de Setembro e vai até 10 de Novembro próximo.

A Bienal foi criada em 1997, a partir do envolvimento de empresas e indústrias gaúchas e por elas tem sido financiada ao longo das nove edições.

Com entrada livre, funciona em quatro espaços no Centro histórico da Capital: Memorial do Rio Grande do Sul, Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Margs), Santander Cultural e Usina do Gasómetro.

 

Esta Bienal propõe um encontro entre arte e natureza.

Nesse sentido, há várias obras que abrangem aproximações entre arte e ciência, por ambas incentivarem a investigação.

Alguns dos espaços onde a Bienal decorre são edifícios muito bonitos, nomeadamente o edifício do Santander Cultural, de estilo eclético onde se combinam elementos dos períodos neoclássico, arte nova e barroco-rococó.

Foi construído pelo Banco Nacional do Comércio entre 1927 e 1932, e teve a participação do engenheiro civil Hipólito Fabre, do escultor Fernando Corona e do arquitecto polaco Stephan Sobczack.

Edifício Santander Cultural - Interior

 

Percorrendo todos aqueles espaços e observando as obras expostas, volto, como sempre, a perguntar a mim mesma, se aquilo que estou a ver é arte ou não.

E, de novo, não há resposta ou, tendencialmente, dou sempre a mesma resposta: para mim não é arte.  

 

Aliás, uma das obras expostas num outro edifício, a obra de Cinthia Marcelle Viajante Engolido pelo Espaço – um grande tapete vermelho formado por pó de ferrugem e terra instalado no chão do Memorial, foi pisado por um visitante que procurava uma casa-de-banho e que não pôde imaginar que o chão empoeirado daquela sala era, de facto, a obra de arte…!

 

Todavia, deixarei aqui algumas fotos e os textos que, na exposição, acompanhavam cada uma das respectivas “obras de arte”, para que, quem passar por aqui, mesmo sem ver ao vivo as peças, possa emitir o seu próprio juízo. 

 

Tradução da resina foi criada por Lucy Skaer em colaboração com a Celu­lose Irani, como parte de Máquinas da Imagina­ção, da 9a Bienal do Mercosul | Porto Alegre

 

Tradução da resina

A resina é uma secreção de muitas plantas, usada em uma série de bens de consumo, como goma de mascar e cera de depilação. Na fábrica da Celulose Irani, em Pinhal, Brasil, ela é extraída dos troncos de pinus e comer­cializada por atacado para diferentes produ­tores. Para a 9a Bienal, Lucy Skaer trabalhou com a empresa para modificar um aspecto do seu processo de produção e distribuição: es­culpiu blocos de resina de 25 quilogramas na forma de pedras preciosas. Uma parte delas está instalada na exposição e será colocada novamente em circulação pela empresa, sendo comercializada da mesma forma que anteriormente.
Os trabalhos anteriores de Skaer abor­dam as trocas de valor de uso e de capital simbólico. Nesse novo projeto,
Tradução da resina, 2013, que intervém e possivelmente subverte as lógicas da produção industrial e cultural, essas mudanças pos­síveis ocorrem de modo evidente. Ao injetar poesia na linha de produção e sem fazer distinção entre produto e obra de arte, o projeto de Skaer levanta a questão a respeito da capacidade da arte de fazer emergir, e não apenas representar ou encapsular, relações políticas e ontológicas.

 

David Zink Yi, Sem título (Architeuthis), 2010

Sem título (Architeuthis)


A lula-gigante (architeuthis)
, que pode atingir até 13 metros de comprimento, tem um lugar especial nas fábulas populares, bem como na imaginação literária. Tanto Herbert Melville como Júlio Verne, por exemplo, mencionam em suas histórias encontros dramáticos com esse monstro do mar. Até uma década atrás, não havia registros fotográficos do animal em seu hábitat natural. Hoje em dia, é possível encontrar na internet diversos vídeos que, supostamente, mostram seus tentáculos em movimento.
Nesse sentido, o animal é como uma tela na qual humanos projetam suas fantasias a respeito da catástrofe natural e da impotência humana. Ele personifica um lugar abstrato, onde a natureza e o homem colidem violentamente. Aparentemente, as lulas-gigantes estudadas e vistas até hoje, em sua maior parte, são animais doentes que chegam à costa para morrer. Será que contam uma fábula da natureza no fundo do mar não só de terror, mas também romântica, de extinção e solidão?

 

 

Robert Rauschenberg, Musa de lama, 1969-71

 

 Musa de lama 

 

Robert Rauschenberg dedicou grande parte de sua carreira à realização de diferentes experimentos sobre o uso e o desenvolvimento de novas formas de encarar as tecnologias conjuntamente com a arte; a partir daí, ele se envol­veu em diversos projetos, incluindo a célebre iniciativa Experiments in Art and Technology, bem como uma participação na Art & Technology, do Los Angeles County Museum – LACMA, com o qual Rauschenberg desenvolveu a singular obra Musa de lama. 

A hipótese do artista partia da ideia de que a tecnologia da época estava repleta de qualidades profundas; de que a arte é uma manipulação criativa de materiais e processos; e de que os novos desenvolvimentos tecnológicos poderiam ser melhor compreendidos pelos artistas se estes estivessem em diálogo com técnicos e/ou cientistas especialistas, que ainda tinham a vanta­gem de contar com os recursos que uma empresa como a Teledyne podia ofere­cer. Assim, os engenheiros da Teledyne se dedicaram à tarefa de pesquisar maneiras de ativar o lodo por meio de ondas sonoras.
O tamanho atual do tanque, 2,7 × 3,6 metros, é muito menor do que aquele ori­ginalmente cogitado por Rauschenberg, de 4,8 × 6,4 metros, que foi reduzido de acordo com o maior tamanho passível de ser transportado por via aérea naquele tempo. O tanque, com paredes de plexi­-glas, tem uma “saia” de alumínio, que serve para cobrir o mecanismo elétrico e hidráulico. Já na etapa final do projeto, Rauschenberg finalizou as soundtracks que mesclaria para fazer o lodo borbu­lhar por meio de um sistema aleatório, controlado por microfones posicionados em diversas partes do recipiente.
No funcionamento de
Musa de lama, o som é um impulso que se transforma em sinal elétrico para, então, distribuir-se em diversas dinâmicas.

 

Para mim, uma das mais interessantes peças  é a Bat Cave, ou Caverna do Morcego, escultura de Tony Smith formada por peças de papelão e localizada no Margs, formada por 4800 peças, e cuja estrutura  deixa espaços vazios internos que permitem a circulação por dentro dela.

Cave de Morcego

 

Fico por aqui, mas voltarei a Porto Alegre num futuro post.

 

 

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