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... com sons e imagens... mas também silêncios, se fará esta conversa ... sempre ao sabor das palavras ...

09
Dez17

A notícia de hoje é que a Câmara de Lisboa vai restringir o horário daquela discoteca onde foi morto o segurança. Medida acertada, diremos todos. Medida tardia, diremos nós, porque as queixas por causa de distúrbios e barulho, naquela zona, já eram muitas e, só agora, por causa do homicídio, a Câmara vai pôr aquele "paninho quente". Apenas porque os olhos de toda a gente estão para ali virados.

Se não fosse isso, a Câmara continuaria a contemporizar, tudo permitindo, nada fiscalizando, protegendo assim os prevaricadores, os "homens da noite", que parecem fazer o que querem em certas zonas da cidade.

O problema do ruído feito fora de horas, sistematicamente, anos a fio, em total desrespeito pelas leis vigentes e até pelos princípios da própria Constituição, não afecta só os moradores de Santos ou do Bairro Alto.

Aqui há tempos foi também notícia o facto de os bares da zona do Cais do Sodré, depois de anos de queixas dos moradores, passarem a ser obrigados a fechar uma hora mais cedo e, essa hora mais cedo, é, convenhamos, ainda demasiado tardia: antes fechavam às 4 da manhã e  passaram a fechar às 3 horas da madrugada ! (Veja-se a propósito o post de 7 de Novembro de 2014 - Lisboa, cidade sem lei?) Pior ainda: muitos desses negócios estão a migrar para bairros residenciais da cidade até aqui livres dessa praga. 

Noite.jpg

(Crédito das imagens: Lisbon Lux; Samuel Alemão in O Corvo - Sítio de Lisboa e F. Jorge in Cidadania Lisboa

 

Creio que tudo isto radica numa concepção de cidade, de todo discutível, que dá primazia ao lazer e ao turismo, em detrimento de uma concepção de cidade virada para os que nela habitam e trabalham. Veja-se a transformação a que a cidade tem sido sujeita  à luz dessa concepção (Cf. o post de 31 de Agosto de 2017 - Os passeios de Medina): faixas de rodagem estreitas e passeios larguíssimos, a que se juntam passadeiras de peões com sinalética em relevo, no chão para invisuais, o que é de aplaudir.

Mas, depois, a Câmara e as Juntas de Freguesia tudo permitem em cima desses passeios - esplanadas temporárias, com cadeiras que se tiram e se põem todos os dias, mas também esplanadas fixas, com alteamento do chão que, afinal, ocupam os novos espaços criados e dificultam o caminho não só aos invisuais, mas a todos, porque esplanadas há que deixam apenas uma estreita faixa de passeio entre a última mesa e a rua. (Mas não havia uma lei sobre isto?)

E cá está o tal conceito de cidade apenas virada para o lazer: são os turistas e os moradores da cidade que pouco ou nada têm para fazer, a não ser estar nas esplanadas ou ir curtir a noite nos bares e discotecas, que são o objecto destes cuidados urbanísticos. Os outros, os que querem dormir em paz ou os que gostariam de mais facilmente circular pela cidade só encontram obstáculos: faixas de rodagem reduzidas, que não permitem suficiente fluidez de trânsito mesmo fora das horas de ponta e poucos lugares de estacionamento ou praças onde idosos e crianças convivem com skaters. 

Será que o que mais interessa à Câmara de Lisboa é o dinheiro que entra nos seus cofres proveniente dos licenciamentos de esplanadas, bares, discotecas e afins? Que sociedade é esta, afinal, que se cria desta maneira?

 

 

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07
Nov14

Tem estado na ordem do dia a (pequena) redução do horário dos bares do Cais do Sodré e de outras zonas da cidade onde, desde há anos, hordas de desocupados não permitem que os moradores descansem as horas a que têm direito.

Claro, que aparecem logo os donos dos ditos bares a queixarem-se de que vão perder o ganho. Um ganho feito à custa da sonegação dos direitos de outros, dos que não recebem qualquer lucro do negócio: os cidadãos de Lisboa que não descansam.

Bares1.jpg

Imagem do jornal Público 

Todavia, o fenómeno está a espalhar-se como um polvo de múltiplos tentáculos pela cidade: a coberto do Licenciamento Zero (que não exige licença nenhuma e nem fiscalização nenhuma), qualquer um que arranje um espaço (mesmo que seja do tamanho da cabeça de um alfinete), que tenha um amigo arquitecto ou engenheiro que lhe faça o jeitinho de dizer que tem todas as condições, pode abrir um bar, em qualquer prédio ou rua da cidade, praticando um horário que pode ir até às 4 horas da manhã!

 

Sei do que falo, apesar de não morar nem no Bairro Alto, nem no Cais do Sodré, nem sequer em Santos, mas sim num bairro pacto e familiar, onde a praga também chegou.

 

Lisboa está a ficar cheia destes bares de vão-de-escada, sem capacidade de albergar nem sequer meia-dúzia de clientes e a quem vendem álcool, pela madrugada dentro, em garrafas de vidro que os clientes trazem para a rua (mesmo sendo proibido), porque, geralmente, não cabem nos bares. Clientes esses que deixam lixo, urina, pontas de cigarros e outras coisas mais, à porta de quem quer que seja, que vandalizam os carros e partem montras e que, sobretudo, impedem o descanso dos moradores que têm a pouca sorte de residir no lugar que alguns empresários-de-trazer-por-casa resolveram eleger para abrirem os seus bares.

Dirão: mas há leis antiruído (nacionais e europeias)! O direito ao descanso e bom ambiente até é um direito constitucional!

Pois é, na cidade de Lisboa, a edilidade permite todos os atropelos a estas leis.

 

Todavia, apressou-se a introduzir as directrizes comunitárias que inviabilizam que um cidadão cumpridor, mas sem dinheiro para carro novo, possa passear na cidade, por causa da eventual poluição que o seu carrinho antigo fará.

Mas, o que é poluição para a câmara de Lisboa? Só a poluição atmosférica? E o lixo espalhado pelas ruas da cidade frente a estes bares? E a poluição sonora dos bandos de desocupados que conversam em altas vozes frente aos lares de quem precisa de ir trabalhar de manhã e onde há, por vezes, doentes, idosos, crianças? Isso não é poluição?

 

Porque não mandam esses estabelecimentos para onde não viva gente, como nas Docas, onde, quem quiser,  se pode divertir longe de zonas residenciais?

Façam, num desses lugares, em vez de uma única rua rosa, um bairro todo rosa! E fiquem por lá.

Aos outros, deixem-nos descansar.

 

A edilidade, com a sua permissividade, está a tornar Lisboa uma cidade sem lei.

 

E, a propósito: quem se lembra ainda deste slogan do actual vereador do ambiente da câmara de Lisboa?

sa-fernandes-1.jpg

 

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