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... com sons e imagens... mas também silêncios, se fará esta conversa ... sempre ao sabor das palavras ...

02
Out12

As viagens também trazem imprevistos e nem sempre tudo corre totalmente bem.

 

Lembro-me de em viagem de carro pela Alemanha, depois de muitos quilómetros andados e ainda longe de Freiburg, ter-se decidido pernoitar numa encantadora Gasthof situada à beira da estrada.

 

(A foto não é minha.
A Gasthof de que falo era parecida com esta)

 

A casa de família, adaptada para receber alguns hóspedes, com a casa de jantar no rés-do-chão, decorada no típico estilo rural da Alemanha do sul, onde a robusta dona-de-casa serviu um bom Abendbrot com várias espécies de pão, carnes frias e queijos e os quartos no piso superior, parecia um paraíso.

 

Quarto espaçoso e com uma grande janela por onde entrava o Sol.

Era Agosto e, nesse ano, fazia imenso calor.

A cama, com lençol limpíssimo, tinha sobre ela, à moda dos países do Norte, um gordo edredão...

 

Claro que perante isso tenho sempre a minha solução de recurso: tiro o edredão de dentro da capa do dito e cubro-me com esta como se fosse um lençol.

Portanto, nada que não se resolvesse.

 

A casa de banho, comum a todo o andar, antiga e pequena, tornara-se ainda mais pequena porque lhe tinham colocado uma cabine de banho para os duches.

E era tão difícil entrar pela abertura da dita, como mexermo-nos lá dentro daquele paralelipípedo envidraçado.

Mas, depois de tantas horas de carro, o duche foi divino!

 

Enfim, limpos e com o estômago aconchegado, chegara a hora de dormir.

Enquanto foi dia, o barulho das vozes dentro de casa, sobretudo das crianças da família, a azáfama da refeição e dos banhos, não permitiram ter noção de qualquer outra coisa, mas depois, com a casa em silêncio, tudo mudou.

 

Fechada a grande janela, como durante todo o dia o sol entrara por ali sem entraves, o quarto parecia um forno, mesmo depois de esventrado o edredão. Era impossível pregar olho.

Nada mais fácil: abre-se a janela e dorme-se sobre a cama sem qualquer cobertura. E assim se fez.

 

Então, começou o suplício: a bonita casa de hóspedes situava-se de facto à beira da estrada que levava a Freiburg e que era percorrida, toda a noite, por grandes camiões que faziam imenso barulho.

Por outro lado, a linha férrea passava perto e, os combóios rápidos, mesmo que não parassem, apitavam perto da estação. E foram tantos!

E, como cereja no topo do bolo, o sino da torre da igreja tocava a todas as horas, todas as meias horas e todos os quartos de hora!

 

Claro que havia meio de fugir a tudo isto: bastava fechar a janela, com boas vidraças duplas que abafavam todos estes ruídos...

... mas aí, era o mesmo que grelhar dentro de um forno!

 

E foi assim que uma casinha de conto de fadas, plantada à beira da estrada, se transformou num verdadeiro martírio.

 

No outro dia, porém, Freiburg fez esquecer o tormento da noite anterior.

 

A música de um compositor alemão nascido no Baden: 

 

Conradin Kreutzer - Septet in E flat Op. 62, Adagio-Alegro

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